Imaginei o dia que me pediriam para falar do meu pai, mas não imaginei que fosse ser difícil.
Todos conhecem o lado profissional. O bom nunca estava suficiente, tudo tinha que estar ótimo, maravilhoso. Perdi as contas de quantas vezes o ouvi dizer que não tinha ficado satisfeito com tal trabalho ou então que precisou refazer um dente não sei quantas vezes. Mas era nessa insatisfação de um resultado, nessa repetição de trabalhos que ele se sentia satisfeito, se sentia feliz.
Mas acho que as pessoas merecem saber o outro lado: o lado marido, o lado pai, o lado filho, o lado amigo, o lado conselheiro. Sim, meu pai foi um homem de inúmeras faces.
Como filha, posso falar muito bem do lado pai. Lembro-me dos inúmeros conselhos, das inúmeras brigas, de alguns castigos, de vários nãos. E foram nesses momentos que o amor de pai se fez presente. Graças aos nãos recebidos aprendi que não podemos ter tudo na vida, foram os conselhos que me guiaram para que não seguisse pelo caminho errado, foram as brigas e castigos que me deram amadurecimento e discernimento para enxergar que tudo na vida tem dois lados.
Mas lembro-me também das palavras de conselhos nas horas mais difíceis, nas horas que achei que tudo estava perdido e que não havia mais jeito. Lembro-me dos carinhos, das piadas, e das demonstrações de afeto ao trazer um pedaço de bolo que eu tanto gostava, ou então ao levantar-se de madrugada pra me buscar nas festas dos amigos.
Mais recentemente lembro-me de tudo o que vivemos nesses seis últimos anos: minha graduação, meu intercâmbio, minha mudança para outra cidade, o casamento da minha irmã, a entrada do meu irmão para a faculdade. Foram momentos que não sabíamos se estaríamos juntos, mas estávamos. E na verdade ainda estamos.
Fica na minha memória a lembrança de um homem que lutou até o fim, nunca se deu por derrotado. Meu pai foi com Deus, está com Deus e digo de coração que foi um guerreiro, foi um herói.
Nenhum comentário:
Postar um comentário